Impacto do GOARN no terreno: Brasil implementa o Go.Data para melhorar o rastreamento de contatos

13 August 2025

Sessões de treinamento sobre o Go.Data para profissionais de saúde de vários estados do Brasil para apoiar a resposta a surtos e emergências em saúde

Sessões de formação do Go.Data para profissionais de saúde dos vários estados do Brasil em apoio à resposta a surtos e emergências em saúde [2022]. © Organização Pan-Americana da Saúde, Brasil 

 

O Brasil, um país de grande extensão com cerca de 8,5 milhões de km², está dividido em 27 estados e 5 570 municípios. As suas cinco regiões – Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul – abrigam mais de 212 milhões de habitantes. Dada a dimensão territorial, a implementação de novas tecnologias e inovações que assegurem o acesso a cuidados de saúde de qualidade é um desafio considerável.

A pandemia da COVID-19 expôs diversas lacunas, entre elas a estratégia de rastreamento de contatos. No Brasil, não existiam ferramentas específicas para este fim, o que levou diversas localidades a adotarem planilhas de monitoramento ou a desenvolver estratégias isoladas.

Nesse contexto, iniciaram-se em agosto de 2021 as primeiras implementações da ferramenta Go.Data. Desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com os parceiros da Rede Global de Alerta e Resposta a Surtos (GOARN), o Go.Data é um software concebido para apoiar respostas a surtos, com especial enfoque no rastreamento de contatos. Permite que os usuários identifiquem indivíduos expostos, monitorem o seu estado de saúde e visualizem cadeias de transmissão. Dois municípios destacaram-se na utilização da ferramenta, aplicando-a à investigação de contatos em diversos contextos, inclusive em instituições escolares. Nessas duas experiências, mais de 30 mil contatos foram registrados. A utilização da ferramenta permitiu o seguimento padronizado dos contatos, com vários profissionais atuando simultaneamente. Além disso, possibilitou a construção de cadeias de transmissão em tempo real, oferecendo dados importantes para a tomada de decisões.

Com o sucesso dessas iniciativas e a emergência do mpox no país em 2022, iniciou-se um movimento para a implementação de servidores a nível estadual com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Como resultado, cerca de 15 estados instalaram a ferramenta na sua infraestrutura, ampliando o seu uso em diferentes contextos epidemiológicos. Posteriormente, o Ministério da Saúde também adotou a ferramenta, integrando-a na sua infraestrutura em conformidade com os protocolos e requisitos de segurança nacionais. Esse foi um marco importante para o Brasil, pois possibilitou o acesso à ferramenta a todos os estados.

Em 2023, com o servidor já instalado no Ministério da Saúde, o Go.Data foi utilizado para o monitoramento de indivíduos expostos a animais com influenza aviária. Nessa experiência recomendou-se o uso de um servidor centralizado para consolidar as informações, permitindo que 15 estados utilizassem o mesmo servidor. Este modelo apresentou um avanço na gestão hierárquica de acessos e na distribuição geográfica da informação, fortalecendo a vigilância epidemiológica nacional.

Com base nessa experiência, desde 2024, o Ministério da Saúde, em parceria com os estados, tem estruturado a adoção nacional da ferramenta no contexto do sarampo e de outras doenças. Para esse fim, foram capacitados dois pontos focais por estado responsáveis por garantir uma resposta oportuna às investigações epidemiológicas, em novembro de 2023, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Escritório Regional da OMS para as Américas ou OPAS) e do Ministério da Saúde.

 

Equipe de epidemiologia do estado do Rio de Janeiro utilizando o Go.Data em resposta a um surto [2025]. © Organização Pan-Americana da Saúde, Brasil

 

A implementação do Go.Data possibilitou a investigação de contatos numa plataforma única e online, com permissões específicas por localidade, agilizando o rastreamento e o seguimento dos casos. O Brasil integrou a ferramenta no seu sistema oficial de notificação de casos, garantindo conformidade com as diretrizes nacionais. Além disso, o Go.Data conta com integração com o Power BI e Shiny, ampliando as capacidades de análise e visualização de dados. A formulação de guias e cursos focados nas etapas operacionais tem promovido a padronização de processos e o fortalecimento das competências dos usuários.

Felipe Lopes Vasconcelos, consultor nacional da OPAS, comenta sobre o progresso da ferramenta no país: “Tivemos a oportunidade de conhecer todas as realidades estaduais do país e, antes do Go.Data, o rastreamento de contatos era realizado de forma morosa e com pouca padronização. Atualmente, já apresentamos avanços importantes em diferentes níveis de atuação e acredito que estamos evoluindo para responder aos surtos de forma mais oportuna.”

O suporte técnico da equipe da OMS tem sido fundamental nesse processo. Desde 2020, a equipe da OMS tem prestado assistência contínua, respondendo a todas as dúvidas, necessidades e sugestões apresentadas pelo país, contribuindo para o avanço da ferramenta ao longo dos anos.